quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Uma polêmica chamada Urânio

Pequeno histórico do Urânio Militar




O Urânio empobrecido é um subproduto do processo de enriquecimento do urânio natural. Diferente do urânio 235, este não pode ser utilizado para fins econômicos em produção de energia e pelas características dele apresentado (denso, resistente e inflamável) o mesmo vem sendo utilizado para fins na área civil e militar. Sua descoberta foi creditada ao químico alemão Martin Heinrich Klaproth (1743-1817), que o batizou urânio, em 1789, em homenagem à descoberta do planeta Urano, ocorrida oito anos antes. Posteriormente, o físico francês Antoine Becquerel (1852-1908) identificou as propriedades radioativas desse elemento.Na década de 1940 já existiam iniciativas do governo norte-americano para a produção da bomba atômica, inaugurando a era nuclear em 15 de julho de 1945 no teste Trinity (imagem abaixo).





Desde então vários testes foram sendo realizados testes e enfim no dia 6 de agosto daquele mesmo ano, a bomba Little Boy foi lançada em Hiroshima e três dias depois em Nagasaki. A Little Boy continha cerca de 60 kg de urânio e cerca de 4 toneladas com toda sua estrutura metálica.


(Little boy) (Explosão de Hiroshima)
(vídeo da explosão de Hiroshima)







Uma fonte forte e barata

Desde 1970 os EUA iniciaram pesquisas para utilização de urânio em projéteis e os resultados mostraram que o desempenho foi muito superior do que qualquer outro metal (com exceção do Tungstênio) . O fato do urânio gerar altas temperaturas eles se inflamava quando atingia uma superfície dura, assim tornando o urânio mais resistente. Portanto, o urânio empobrecido, também em função de sua ampla disponibilidade e baixo custo, acabou sendo escolhido para uso maciço em projéteis de alta penetração e em blindagens de veículos de combate. Isso resolvia, em parte, outro problema: a estocagem do urânio empobrecido gerado em grandes quantidades pelas usinas de enriquecimento, reciclando-o para outra finalidade. Com relação às forças armadas brasileiras, segundo uma publicação especializada (Âncoras e Fuzis, ano III/nº 10 – 1º de maio de 2001), tanto a Marinha Brasileira quanto o Corpo de Fuzileiros Navais não utilizam munição de urânio empobrecido, mas sim à base de tungstênio. No entanto, contatos feitos pelo autor deste artigo com órgãos federais brasileiros (Ministério da Defesa, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares e Centro de Tecnologia da Marinha em São Paulo), questionando-os sobre o uso ou não do urânio empobrecido para fins militares, foram infrutíferos até agora.


Guerras e conflitos.


Para exemplificar o poder de munições que empregam urânio empobrecido, os projéteis de 30 mm usados pela força aérea norte-americana na Primeira Guerra do Golfo, em 1991, foram capazes de atravessar blindagens de aço com até 9 cm de espessura. Quando atingiam o solo de argila, os projéteis penetravam até 3 m.

As inúmeras vantagens do urânio empobrecido levaram ao desenvolvimento maciço desses armamentos, principalmente nos Estados Unidos, onde estimativas indicam que cerca de 600 mil toneladas de urânio empobrecido tenham sido produzidas, sendo parte estocada sob a forma de hexafluoreto de urânio em cilindros enormes. Cerca de 320 toneladas foram empregadas no Iraque e no Kuwait nos conflitos decorrentes da Primeira Guerra do Golfo, e posteriormente outras 15 toneladas foram usadas na Bósnia (1995) e em Kosovo (1999).


Devido ao sucesso nessas campanhas militares, é provável que as forças norte-americanas e britânicas tenham feito uso dessas armas nos conflitos do Afeganistão (2001) e da Segunda Guerra do Golfo (2003). Esses armamentos também podem ser lançados por tanques, caças-bombardeiros, helicópteros e navios.

Algo fica no ar

Quando um projétil contendo urânio empobrecido atinge uma superfície resistente forma-se pelo impacto uma poeira que se dispersa pela atmosfera. Estimativas indicam que cerca de 35% do urânio empobrecido das munições se tornam partículas de aerossóis no impacto ou quando esse metal se inflama. Essas partículas mantêm-se suspensas na atmosfera por um longo tempo, facilitando sua dispersão.

O maior risco de projéteis e fragmentos refreando urânio empobrecido sobre o meio ambiente é o de contaminação do solo e/ou dos lençóis freáticos. Posteriormente a um ataque com esse tipo de munição, os estilhaços de projéteis parcialmente oxidados são colocados em superfícies e no solo.



Acidentes aéreos
O urânio empobrecido já foi empregado como aditivo fluorescente em porcelanas dentárias. Recentemente, ainda é empregado em proteções contra os raios X; como contrapesos de flaps e lemes de aviões comerciais; em quilhas de veleiros; e em carros de Fórmula 1. Uma das principais aplicações do urânio empobrecido é em lastros de aviões cargueiros. O motivo é sua alta densidade: um volume diminuto desse metal tem uma massa muito grande (ou seja, “pesa” muito). 


Mas seu uso civil tem sido bastante discutido, e, aos poucos, esse metal vem sendo substituído pelo tungstênio, devido aos possíveis efeitos à saúde humana e ao meio ambiente. Duas das maiores empresas fabricantes de aviões civis norte-americanas, desde a década de 1980, não empregam mais o urânio empobrecido em seus aviões. Mas um grande número de aeronaves fabricadas até então ainda continua em operação. 
Acidentes com aeronaves que transportavam urânio empobrecido como lastro já ocorreu em, pelo menos, três ocasiões. A primeira foi na ilha de Tenerife (Espanha), em 1977, em uma das maiores catástrofes aéreas da história da aviação, com 563 mortos, quando dois Boeing 747 colidiram na pista de decolagem.

Em outubro de 1992, poucos minutos após a decolagem, no aeroporto de Amsterdã (Holanda), um Boeing 747 perdeu dois de seus motores e atingiu dois prédios residenciais, causando um grande incêndio e a morte imediata de 43 pessoas. As autoridades locais declararam que o cargueiro empregava como lastro cerca de 280 kg de urânio empobrecido, sendo que, dessa quantidade, cerca de 150 kg nunca foram encontrados, levantando a hipótese de que tenha sido queimada no incêndio e liberada na atmosfera na forma de partículas. 

Nos anos seguintes ao acidente, foram registrados vários casos de pessoas com problemas físicos e mentais na área vizinha ao acidente. Inicialmente, esses quadros foram atribuídos aos produtos de queima de substâncias perigosas à saúde humana transportada pelo avião, especialmente o urânio empobrecido. Mas um estudo de 2000 demonstrou que o risco daquela população exposta aos aerossóis e aos produtos de queima do avião foi muito baixo e que os casos descritos não tinham relação com o acidente.

Em um terceiro acidente, próximo ao aeroporto de Stanstead (Inglaterra), outro Boeing 747 carregando urânio empobrecido caiu minutos antes do pouso, espalhando seus destroços por uma grande área. 


Modelos de Laboratório 

Estudos feitos nos Estados Unidos mostram que, nos locais onde armamentos contendo urânio empobrecido foram empregados de modo mais sistemático, o contato de seres humanos com esse metal ocorreu, basicamente, de dois modos: 
Exposição aguda por inalação ou ingestão de aerossóis, vapores ou poeiras; 
Exposição crônica devido à presença de fragmentos de projéteis inseridos em tecidos do corpo humano. 

As informações disponíveis sobre os efeitos biológicos do urânio empobrecido são poucas, e a disponibilidade dessas informações é muito limitada, o que dificulta a determinação precisa dos possiveis riscos da exposição a esse metal. Efeitos carcinogênicos e mutagênicos (respectivamente, que causam câncer ou mutações no código genético de um organismo) induzidos por fragmentos de projéteis retidos no corpo ou em partículas inaladas já foram descritos em modelos de laboratório. 


Condenado ou absolvido 

Enquanto a mídia e a pesquisa científica mantêm o foco nos possíveis efeitos do urânio empobrecido sobre os soldados da Otan, bem como nos veteranos de guerras dos últimos 15 anos, muito pouca atenção tem sido dada às populações civis altamente expostas a esse metal, como é o caso daquelas no Iraque, nos Bálcãs e no Afeganistão. Os soldados da Otan, bem como famílias deles, não estarão expostos ao urânio empobrecido ao longo da vida, diferentemente dos civis desses países, que foram ou são forçados a conviver com crateras produzidas por bombas ou mísseis e, portanto, estão expostos continuamente ao ar, à água ou ao solo contaminados ao redor deles. 

Apesar de grande parte das informações indique que o urânio empobrecido não ofereça risco radiológico, devemos pensar sobre os riscos da exposição dos civis em longo prazo. A leucemia, induzida por radioterapia, por exemplo, desenvolve-se normalmente após um período de latência de dois a três anos, embora nesse caso se trate de uma exposição aguda e em altas doses. Evidências obtidas da população de Hiroshima mostraram que o período de latência média para o desenvolvimento dessa doença é de 10 a 15 anos – mas, novamente, se trata de uma exposição aguda em doses altíssimas.



O urânio empobrecido emite radiação em baixas doses e por tempos extremamente longos. Assim, não é possível ainda afirmar categoricamente que ele não ofereça qualquer risco biológico. Somente pesquisas de acompanhamento das populações expostas por longo prazo poderão absolver ou condenar o uso desse metal. 

Finalmente, resta ainda a hipótese de o uso militar desse metal ser uma forma silenciosa de eliminação dos resíduos tóxicos em países que têm altos estoques de urânio empobrecido e que passaria despercebida pelas populações e pelos governos atingidos pelas guerras dos últimos 15 anos. 






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