sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ONGs e movimentos sociais sulamericanos criticam agenda nuclear




Os governos argentino e brasileiro anunciaram no sábado (6/9) a criação de uma empresa binacional voltada para o enriquecimento de urânio, produção de radioisótopos e desenvolvimento de reatores nucleares.
A iniciativa faz parte de um pacote nuclear conjunto muito maior, envolvendo outros 61 projetos no setor, todos elaborados e decididos em segredo, sem nenhuma consulta às populações, às comunidades científicas ou sequer aos parlamentos dos dois países, como nos mais sombrios tempos das ditaduras que assolaram Argentina e Brasil anos atrás.
Pior, todo o pacote nuclear argentino-brasileiro é baseado em planos megalomaníacos de instalação de 12 a 15 centrais nucleares de energia na América do Sul até 2030, espalhando a aventura nuclear a países como o Chile, Uruguai, Peru e Venezuela. Nesse sentido, Bolívia e Equador também poderiam vir a integrar a lista de países envolvidos na proliferação nuclear na América Latina.
Lamentavelmente, a Argentina, já em complicada situação econômica, decide "apostar" em uma forma de energia ultrapassada e custosa, retomando as obras de Atucha 2 (paralisadas há anos) e anunciando a construção de outras 2 usinas, além de impulsionar também perigosíssimos empreendimentos de mineração de uranio.
O Brasil que, por outro lado, vive um momento de relativa estabilidade econômica, opta por ressucitar uma indústria nuclear que já foi responsável por um terço da sua dívida externa na década de 1980, tendo custado até hoje aos cofres públicos cerca de US$ 40 bilhões, segundo estimativas oficiais. Cedendo aos delírios de funcionários das estatais do setor nuclear, alguns militares e uma ultrapassada minoria que vê a bomba nuclear como algo essencial ao país, além dos interesses comerciais e militares no ciclo do combustível nuclear, Lula anuncia a construção de Angra 3 (a um custo de mais US$ 4,5 bilhões, além do que já foi gasto com ela) e de outras seis usinas até 2030, criando um novo rombo financeiro e - inevitavelmente - encarecendo o preço da eletricidade para o consumidor.
O presidente do Brasil é ainda mais ambicioso: apesar de até hoje não ter sido resolvido o problema dos depósitos definitivos para o lixo atômico das usinas de Angra 1 e 2, lançou desafio para que o setor resolvesse em 60 dias o que não consegiu em mais de 50 anos da indústria nuclear mundial.
A atitude dos governos brasileiro e argentino só pode ser caracterizada como total desprezo pela opinião do cidadão comum da região. É ele quem, em última instância, deverá pagar a enorme conta dessa "farra nuclear". Mais triste do que isso, é o cidadão comum que estará mais exposto aos riscos que as usinas e os depósitos de resíduos nucleares trazem consigo.
Em um mundo em rápida transformação diante das mudanças climáticas, onde governos, cientistas, empresários e simples cidadãos buscam um novo modelo de desenvolvimento, baseado em premissas como o uso de fontes de energia renováveis e limpas, a transparência e participação das populações na tomada de decisões que afetem suas vidas e a busca da segurança e paz entre as nações, Brasil e Argentina parecem não perceber a oportunidade de liderança que poderiam exercer, sujando suas matrizes energéticas, impondo pacotes nucleares às suas populações e fomentando um ambiente de insegurança na região.
                                                                                                                                                                          
 

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